PRAIA, NOITE, TERRA
Era o fim: Eliana sabia que jamais viria Rodrigo novamente, depois da briga. Estava exausta do relacionamento e ele também. Amavam-se, mas eram extremamente diferentes, tipo água para o vinho mesmo, e aqueles seis meses passaram-se em pura insistência.
Ela gostava de ser sozinha mas, quando Rodrigo apareceu, estava em uma fase de sua vida onde tudo finalmente fazia sentido e, encontrar o amor, era a cereja do bolo, naquela ocasião.
Eliana é muito racional, racionalizando inclusive o amor: quando viu Rodrigo simplesmente percebeu que ele era, ao menos na teoria, tudo que ela sempre quis. Já estava com 35 anos, não namorava há um tempinho, era nova na cidade: por que não experimentar?
Rodrigo era o cara mais bonito da região: todas as meninas o queriam. Mas, considerando-se o ponto de vista daquele rapaz, Rodrigo não queria um amor, Rodrigo queria Eliana, diferente dela, que apenas conversava com seu coração sobre novas possibilidades, nada mais.
Com um mês de namoro sentiu-se apaixonada, ria à toa. Na verdade, o riso talvez fosse efeito da cachaça caseira de Seu João, que ajudava a atiçar seu coração. Já Rodrigo não precisava de nenhum artifício para amá-la: era assim e pronto, não importava o comprimento ou cor dos cabelos dela, nem tampouco um universo inteiro de anéis, roupas e pintura, desde a mais sombria maquiagem negra noturna de baile, até a cara lavada no domingo de sol. Estava tudo sempre bom para Rodrigo, Eliana sempre boa, tudo bem!
Ela queria companhia. Ele queria casar. Ela queria alegria e dança. Ele queria conversar. Naquela tarde, Eliana deu um ponto final, comeu a cereja do bolo e tchau. Mas, para Rodrigo, era noite de tristeza e lamento, de não sei o que, de não sei o que lá, de confusão, de choro engolido na frente dos amigos, de tentar voltar pra casa tarde e não contar pra ninguém, de querer sumir do planeta Terra, desaparecer, deixar pra lá.
Para Eliana era apenas um término. Para Rodrigo era o fim da linha, da expectativa de amar, confiar outra vez, desejar.
Eliana sabia que jamais viria Rodrigo novamente, depois daquela briga. Estava exausta do relacionamento e ele também. Amavam-se, mas eram extremamente diferentes, tipo água para o vinho mesmo, e aqueles seis meses passaram-se em pura insistência.
Verônica Tratch