O CAFÉ
Denise estava muito nervosa, muito mesmo. Era a primeira vez que encontrava Otávio. Conheceram-se pela internet, em um site de relacionamentos, e já conversavam há três meses. Ele parecia bonito pelas fotos, mas tendo em vista que seu último affair virtual tinha 1,50m, Denise desta vez, mais experiente no assunto, começava a duvidar da sorte.
Eles haviam marcado às 15h30 em um café da Avenida Paulista. Era sábado. Ela pôs um vestido simples e florido, estilo sessão da tarde. Tendo em vista a experiência ruim pela qual havia passado, mentiu a cor da roupa: do amarelo combinado, passou a um azul bebê, assim se o cara tivesse algum “problema” que a desagradasse, dava pra escapar sem ser pega. Prendeu os cabelos compridos e pôs um par de óculos escuros, também: estava irreconhecível.
Ela escolheu a última mesa do café, entre uma estante de revistas e o balcão. Abriu um livro que cobria seu rosto e volta e meia, conforme se aproximava o horário marcado, abaixava os óculos e o livro para ver se encontrava Otávio.
15h45 e nada. Quando quase se levantava para ir embora sentiu uma mão tocando seu ombro. “Ai, meu Deus”, pensou. Olhou meio disfarçadamente para o lado: “Oi, quase não te reconheci.” Parecia Otávio, mas ela ficou muito na dúvida. De qualquer forma, o rapaz era bonito, então ela abriu um sorriso e começou a conversar. “Sente-se, por favor.” Disse ela, toda serelepe.
Depois de 30 minutos ainda não tinha certeza se conversava com Otávio ou se aquilo tudo não passava de um mal entendido. Então, resolveu arriscar: “ Mas então, Otávio. Estamos aqui há meia-hora e sequer pedimos o café.” O rapaz a olhou assombrado:”Otávio? Meu nome é Vinicius!”,disse ele, aborrecido.
Nesse meio tempo entra um rapaz bonito de rosto, porém gordinho, mal vestido e tão fedorento que Denise sentiu seu odor quando ele passou da porta: “ Meu Deus, é Otávio!”, pensou ela. “Vamos sair daqui, agora!”, disse ela a Vinicius. “Mas, quem é você?”, perguntou ele, ainda perturbado. “Não interessa, vamos aproveitar que ainda não fizemos qualquer pedido. Está vendo aquela porta lateral? Eu saio e você me segue”, disse Denise, incisiva.
Ela correu para a porta lateral meio agachada e com o livro tapando seu rosto. Vinicius correu atrás. Ela subiu a escada rolante da galeria onde ficava o café. Vinicius subiu também. Ela viu uma enorme livraria no final do corredor, onde havia uma espécie de bistrô e entrou, sendo seguida mais uma vez por Vinicius. Havia uma mesa no fundo, ela sentou-se de costas para a porta e Vinicius em frente a ela.
“Pode me explicar o que está acontecendo?”, disse Vinicius, muito aborrecido.
Quando Denise começava a falar, parou para pensar e disse o seguinte:”Vinicius, quem me deve explicações é você.” Silêncio mortal. Os dois falaram ao mesmo tempo:”Acho que te confundi com outra pessoa.” E caíram na gargalhada, pedindo um cafezinho.
Conversaram por duas horas sem sentir o tempo passar. Ele lindo. Ela deslumbrante. Os dois inteligentes, interessantes e apreciadores de um bom café. Telefones trocados. Um cinema marcado para o dia seguinte. Ele a deixa em casa despedindo-se com um leve beijo em seus lábios.
Verônica Tratch