MEU IMPOSTO FOI PRO BREJO
Lúcia morava em uma pequena cidade do interior de Goiás, cercada por vacas e bois e alguns cabritos, em meio às fazendas da região.
Local de difícil acesso para as áreas vizinhas, toda vez que precisava de um remédio, roupas ou mantimentos, deveria viajar, ela e seu marido, pela estrada toda esburacada. Vivia revoltada, a pobre! E sempre reclamava da vida e dos impostos que tinha que pagar.
“João”, dizia ela ao marido. “ Por que pagamos tantos impostos se não temos nada? Esta estrada esburacada é uma verdadeira vergonha, João. Na nossa cidade nem hospital público tem, aquele posto de saúde minúsculo, no meio do nada, serve pra quê? Pra fazer o povo morrer na fila de espera, só se for. Se eu passar mal aqui pode me enterrar, porque até que chegue uma ambulância!”
“Deixa de reclamar, mulher!”, dizia João, indignado. “O prefeito de nossa cidade é maravilhoso! Não temos hospital , não temos estrada, mas em compensação recebemos cesta básica e a escola municipal é a melhor das redondezas”.
“É, da escola não podemos reclamar mesmo não.” E cala-se percebendo que já irritava o marido.
Depois de muito quicarem pela estrada naquele ônibus velho oferecido pelo município de Viváras, Lúcia conseguiu ir de sacolinha até a feira, para comprar suas frutas e verduras frescas, enquanto João procurava um autopeças onde pretendia um novo volante para seu trator. Cumprida a missão voltaram ,novamente quicando, à cidade.
Lúcia é mãe de três filhos pequenos, os três homens: José, Inácio e Farias. Aí vão me dizer: “Farias não é nome, é sobrenome.” Na verdade, batizou os meninos com os nomes do grande benfeitor da cidade, José Inácio Farias, e ao caçula só restou seu sobrenome, usado como nome próprio.
José Inácio Farias iniciou a carreira política como vereador de Viváras. Depois tornou-se prefeito e já estava no segundo mandato. Conseguiu a melhoria da escolinha municipal e criou um sistema de cestas básicas para famílias de baixa renda. As estradas internas da cidade, até o limite de área de Viváras, eram até bem conservadas..... Mas as intermunicipais.... É que para elas dependia do governo federal e nem sempre a verba era devidamente repassada.
Viváras, como citado anteriormente, é um município pequenininho a duas horas de Goiânia e a 20 minutos da cidade de Santa Fé, onde geralmente os habitantes das vilas vão à feira e compram remédios.
O posto de saúde do município é uma gracinha, mas não tem competência para cuidar de grandes casos, já que não há hospital municipal na cidade: é mais vacinas, tratamentos pediátricos e pequenas cirurgias de menor risco. A cidade inteira torcia para que o Sr. José Inácio, candidato antigo da região, se tornasse governador de Goiás um dia, já que era homem digno e honesto, mas esse sonho estava há anos luz de tornar-se realidade, já que tinha pouca projeção política no restante do Estado, nem como deputado estadual conseguiu eleger-se.
Sim, há políticos corretos. Assim como há fiscais corretos, policiais corretos. Só que nem sempre essas pessoas têm a capacidade de chegar ao topo, já que evitam misturar-se com o “grande poder”, por assim dizer.
Na cabeça de José Inácio, repassar os poucos impostos que conseguia arrecadar naquela cidade pobre oferecendo um mínimo de dignidade, ainda que em seus ínfimos limites, era um bem maior do que abrir mão de certos valores em prol de tentar algo mais.
E Viváras era cheia de Josés Inácios, muitos mesmo, afinal de contas, existem Josés e Josés e, ao menos para os habitantes daquela cidade, este nome representava esperança e não desilusão.